
A obra traz 11 artigos com reflexões sobre o mundo do esporte que se utilizam, em alguma medida, das contribuições do pensamento gumbrechtiano. São abordados aspectos como o engajamento das torcidas, a transmissão televisiva, a experiência estética do futebol no cinema brasileiro e o fascínio da seleção brasileira.
Gumbrecht também assina o capítulo “Perdido numa
intensidade focada: esportes e estratégias de reencantamento”, publicado
originalmente na revista Aletria (letras/UFMG) e cedido pelo autor para publicação pela EdUERJ. Em sua reflexão, ele procura entender por que o esporte tem
um apelo tão forte. Em sua visão, o espetáculo esportivo consegue dissociar-se
do cotidiano, construindo instantes de epifania, como o da bela jogada, que
“começa a desaparecer no exato momento em que acontece”. Nessa perspectiva, a
atividade esportiva remete à procura da superação de limites pessoais e à busca
pela perfeição, viés que muitas vezes se sobrepõe ao da competição. A
experiência estética do esporte é ressaltada, indo em direção oposta à dos
intelectuais que desconfiam de manifestações oriundas das classes mais
populares ou daqueles que acreditam só ser possível encontrar valor artístico
em museus e galerias.
Ao contrário de
pensadores que consideram o esporte alienante ou descartável, por se fixarem em
uma leitura do paradigma de indústria cultural da Escola de Frankfurt, Gumbrecht
elenca aspectos estéticos e culturais de atividades como o futebol, sugerindo
novos campos de pesquisa. Nessa empreitada, alia o domínio em teoria literária
a sua experiência tão ampla quanto diversificada como espectador de eventos
esportivos. Sua observação muitas vezes é feita a partir de uma perspectiva
kantiana, mas sem se limitar a ela.Vale ressaltar que o trabalho intelectual de Gumbrecht
abrange múltiplos temas, em áreas diversas, podendo ir da política a questões
relativas à cultura, esporte ou à filosofia. Entre os seus livros está “Corpo e
forma”, de 1998, lançado pela EdUERJ.
O lançamento de Esporte e mídia está em sintonia com o
momento por que passam os fenômenos de característica midiática. O
compartilhamento de vídeos, as crescentes comunidades de fãs virtuais e a
possibilidade de manusear material audiovisual no metrô ou no ônibus, por
intermédio de smartphones, ocasionaram uma estimulação de tal amplitude que
alavanca os atletas a astros populares, redimensionando a importância dos esportes
em nossas vidas. Para os estudiosos da comunicação, analisar a interface
esporte e mídia em nossa época é um desafio que se faz cada vez mais premente.
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