segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Boas intenções?

"A colaboração lhe bate à porta...", de Ana Lúcia Vieira, publicado pela EdUERJ traz à tona um tema pouco exporado: a visitação social, prática que fazia parte do cenário de desenvolvimento capitalista industrial e da expansão urbana no fianld o século XX. O livro esmiúça a atuação das visitadoras sociais em uma companhia têxtil do Rio de Janeiro e desnuda as motivações ideológicas que comumente ficavam menos à vista do que as aparentes boas intenções.

As visitadoras sociais retratadas atuavam junto aos operários da Companhia Nova América, durante o período de 1944 a 1953. A visitações, objeto do livro da EdUERJ, acontecia em diversos espaços: na fábrica, na Vila Operária Ciedade-Jardim Nova América e nas dependências da Associação Atlética Nova América. Com a crescente industrialização do país, também aumentava o interesse do Estado e dos empresários em promoverem a atividade das visitadoras. para Ana Lúcia Vieira, era possível, "detectar nessas práticas uma rede muito maior de estratégias de poder"
As visitadoras orientavam em relação à saúde, higiene, alimentação, organização do lar e relações familiares, com base em discursos médicos, higienistas e pedagógicos, de onde também provinham a inspiração para os tratamentos adequados. A gama de atividades das visitadoras era extensa: acompanhamento de gestantes, orientação nos cuidados com os recém-nascidos, encaminhamentos as crianças maiores às creches da fábrica e determinação de hábitos alimentares e de higiene. Entre outras atividades, buscava-se também compreender a vida pregressa do operário, com o objetivo de tecer um diagnóstico de possíveis desajustes sociais.

Entre as principais atividades das visitadoras, o livro enumera a fiscalização do uso dos serviços públicos e sociais disponibilizados pelo Estado e pela empresa aos operários, o monitoramento das vidas particular e profissional dos operários, e finalmente, a doutrinação destes aos valores instituídos como os mais adequados ao trabalhador brasileiro.
Ao avaliar a visitação, a autora considera que “a urgência de medidas que assegurem um mínimo de bem estar a indivíduos e grupos não pode se transformar em álibi para intervenções desmedidas no dia a dia das pessoas”. Estratégias de poder sutis, mas eficientes que colocam em pauta a eterna questão sobre os limites do estado no que tange à vida particular do cidadão. Meta revelada pela autora: espera que sua pesquisa “possa estimular um olhar inquiridor sobre as políticas públicas e sociais do tempo presente.”

 

 

 
 

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