
A autora pesquisou as diferentes vertentes de alimentação natural e seus adeptos no Rio de Janeiro. Dentre as práticas naturais de alimentação, destacou a linha vegana e a do alimento vivo. Os primeiros restringem sua dieta a alimentos de origem vegetal ou fungos, já os segundos baseiam sua alimentação em sementes e alimentos crus. Para a autora, a preferência por uma dieta natural é uma ideia que surge “simbolicamente como resistência ao fast food, refletindo uma tensão com o industrialismo, especificamente com o seu caráter lucrativo e o consumismo” Esta linha de pensamento conjuga a pressa, a violência e a desigualdade social como antagonistas de um pensar que valoriza a alimentação natural, a ecologia, o artesanal e utopias.
Os capítulos apontam para os valores que os naturistas atribuem à sua relação com os alimentos. Como o de sacralização da natureza, traduzido em ações como afastar-se dos agrotóxicos e aditivos alimentares contidos nos produtos industrializados. Não ingerir carne também insere-se como uma crítica à violência e aos sofrimentos causados aos animais. Outro signo que Maria Claudia da Veiga detectou é o da contracultura com base nos ideais dos anos 1960. Neste caso, exaltam-se os direitos das minorias e a liberdade de expressão em oposição às “imposições do sistema” e às urgências do capitalismo. A simpatia pela contracultura demonstra a consciência do que significa ser partidário de uma alimentação natural em uma sociedade que é carnívora em mais de um sentido.
Bricolagem Alimentar é um conceito adaptado da proposta sócio antropológica que Lévi-Strauss chamou de bricolagem e, no caso deste livro, equivale à experiência de organizar o universo simbólico dos significados dos alimentos na vida das naturalistas. O campo etnográfico é basicamente composto pela classe média do Rio de Janeiro (às vezes não pelo poder aquisitivo, mas pelos hábitos) e a estratégia escolhida foi a dedesnaturalizar: interpretar o significado dos alimentos, e, principalmente “estranhar aquilo que era familiar ou natural a essas coisas”.
Indicado a estudiosos de nutrição social, o livro é um estudo etnográfico que serve de estímulo também para aprofundar uma reflexão sobre os hábitos alimentares do homem urbano em nossos tempos
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