Prof. Jorge Luiz do Santos Junior |
A EdUERJ está mais uma
vez entre os finalistas do Prêmio Jabuti. Dessa vez, concorrendo na categoria
Ciências exatas, tecnologia e informática. O indicado foi "Ciência do
futuro e futuro da ciência: redes e políticas de nanociência e nanotecnologia
no Brasil". Nosso blog conversou com o professor Jorge Luiz dos Santos
Junior, autor do livro.
Professor, quais
foram os motivos que o levaram a perceber a necessidade de discutir nanociência
e nanotecnologia no Brasil?
Meu contato mais robusto com o tema foi no ano de 2007 na
Cidade de Vitória-ES, na ocasião do IV Seminário Nanotecnologia, Sociedade e
Meio Ambiente promovido pela Renanosoma (Rede de Pesquisa Nanotecnologia,
Sociedade e Meio Ambiente), instituição Coordenada pelo Professor Paulo Roberto
Martins, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo.
Os diferentes participantes, representando diversas áreas do
conhecimento e da sociedade civil, ao exporem suas opiniões divergentes, e
muitas vezes radicais, me fizeram perceber que eu estava diante de um tema que
precisava, cada vez mais, de atenção dedicada, que buscasse entender os diversos
discursos, os interesses em jogo, bem como o próprio potencial transformador e
disruptivo das nanotecnologias.
É um tema latente no
contexto atual do país?
Eu diria que se trata de um dos temas mais fundamentais da
atualidade. Digo isso porque a nanociência e as nanotecnologias têm um
potencial de penetração em várias áreas. A possibilidade de manipulação atômica
para criar coisas “de baixo para cima” suscita entre os cientistas o anseio de fazer
nanociência em diversos campos científicos (física, química e biologia) e
aplicar as nanotecnologias nos mais variados setores (medicina, cosméticos,
alimentos, novos materiais, energia, agricultura etc.).
Mas para além do potencial de aplicação, o qual chamo de
“Redenção” no livro, existem também aquilo que caracterizo como “pesadelos”,
relacionados a todas as incertezas e riscos associados à manipulação e
aplicação desmedidas. Por isso, espera-se uma atuação responsável por parte do
governo e das empresas, e um envolvimento (uma politização) social bastante
amplo.
Você fez o mapeamento
e a análise de editais de pesquisa de nanociência e nanotecnologia lançados
pelo CNPq no período de 2000 a 2010. Como foi esse trabalho?
No livro eu estudo o ideal brasileiro de se fazer pesquisa a
partir da formação de redes interdisciplinares e interinstitucionais, modelo
presente na maior parte dos editais do CNPq para o setor de N&N. Assim,
analisei cada um dos editais a fim de perceber que tipo de orientação estava
presente, quais planos de desenvolvimento seguiam. No entanto, fui além dos
editais e analisei as áreas de atuação de proponentes dos projetos aprovados, bem
como suas redes relacionais. Fui atrás do currículo de todos os envolvidos no
processo de fomento à pesquisa, que vai desde a criação da política, passando
pela formatação de um edital e aprovação dos projetos, e chegando à validação
dos resultados das pesquisas. Todo esse trabalho teve como objetivo perceber se
a interdisciplinaridade e cooperação interinstitucional estavam realmente
presentes na execução da política, ou seja, nos projetos fomentados. Os
resultados dessa empreitada estão detalhados no Livro, em que usei como
metodologia a Análise Estrutural de Redes Sociais, buscando entender o processo
a partir de diversos olhares. Diria que as conclusões não são muito animadoras,
mas que talvez ainda haja algo a ser feito.
Seu livro está
concorrendo na categoria Ciências Exatas, Tecnologia e Informática. Você
acredita que a obra é direcionada a estudantes e profissionais dessas áreas ou
atende também a “leitores comuns” interessados nas tecnologias abordadas?
Do meu
ponto de vista a obra tem uma contribuição interessante para a área em que está
concorrendo, principalmente por apresentar uma visão que é muito negligenciada
nos atuais currículos acadêmicos, qual seja, a noção de que a Ciência não é
única, tampouco neutra e seus resultados não são exatos. Além disso, busco
enfatizar o olhar de que não existem “leigos” tampouco “peritos” no campo da
ciência, e que o diálogo e a redução das “vaidades científicas” são fundamentais
para um desenvolvimento científico, tecnológico e social mais harmonioso. Deste
modo vejo que o livro pode ser lido por todos os interessados no tema
“Ciência”, sem nenhuma necessidade de especialização científica. É uma obra que
busca o diálogo.
Como você recebeu a
indicação de seu livro ao prêmio Jabuti deste ano?
Foi ótima surpresa, uma grande felicidade para mim e para
todos ao meu redor, é um momento único de reconhecimento e legitimação do trabalho. A escrita dessa obra foi uma das experiências
mais profícuas em minha trajetória de vida. Foram alguns anos de trabalho e
amadurecimento de ideias. Por isso, só tenho a agradecer a todas as pessoas que
leram, discutiram e me motivaram durante o trabalho. Agradeço também a toda a
equipe da Editora da UERJ e à Faperj por terem acreditado na obra. Estou sem
palavras para expressar minha satisfação.
Agradecemos a entrevista ao nosso blog!
(Pauta elaborada por Thaís Araújo, entrevista diagramada por Ricardo Z.)
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