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Kriller71: Leminski |
Parafraseando Euclides da Cunha e o que ele disse sobre o
sertanejo, podemos nos referir àqueles que se aventuram pela seara da edição de
poemas. O editor de poesias é antes de tudo um forte, seria uma possível conclusão
de quem compareceu ao debate realizado durante o evento “20 anos da EdUERJ –
Encontros com Aníbal Cristobo”.
Foi numa terça-feira 13 de maio, na Casa Dirce Cortes, em
Botafogo, com o empecilho dos poucos ônibus na rua, devido à greve. Mas isto
não significou que não houvesse um público fiel. Havia e, melhor, interessado
nos caminhos/futuros da poesia contemporânea. E a mesa de debate? Vamos a ela.
Além do poeta/editor argentino Aníbal Cristobo, contou com
Marília Garcia, que trabalhou na Editora 7Letras, os poetas Lucas Matos e
Márcio Junqueira, do Blog Bliss não tem Biz, e o editor executivo da EdUERJ,
professor Italo Moriconi. Pelos
depoimentos, ficou nítido que publicar poesia não é um convite à morosidade.
Marília Garcia, que trabalhou na Editora 7 Letras e integra
a
equipe da Revista Modo de Usar e co, considera o tipo de atividade que “pede
o jogo de fazer e desfazer para voltar ao ponto inicial onde existe o espanto”. Para ela, no mercado das edições
independente, “o desafio não é vender, mas editar sem as maneiras de antemão já
prontas”. E cita como exemplo de uma ação transgressora, a coleção Moby Dick,
artesanal, da Editora 7Letras, feitos com uma impressora doméstica e uma
tiragem pequena.

Aníbal Cristobo trouxe sua experiência internacional. Ele
enxerga no mercado editorial espanhol um clima conservador nem sempre propício
para a arte. E cita concursos realizados pelo governo com temas tolos, como
poesias sobre touros, o que despertou uma reação entre o riso e a estupefação. “O
mercado editorial espanhol não está acompanhando o que está acontecendo”,
declarou. Por conta da falta de visão das grandes editoras, Cristobo passou na
frente e acabou conseguindo editar uma antologia de Paulo Leminski. “Achavam
que era um autor que só interessaria ao Brasil”. Cristobo também criticou o
fato de que não se publica nada sem fazer previamente um projeto para descobrir
a viabilidade comercial da iniciativa. “Eu não quero pensar em termos de
produto, mas como um agente cultural. A ideia não é esconder a fragilidade do
projeto, mas apresenta-la, não como carência, mas como característica”. Sua
ação de publicar e distribuir o material da Editora Kriller71 é “fazer um tipo de guerrilha e oferecer outra
coisa”, diz referindo-se ao cardápio mais tradicional das grandes editoras. A Kriller71 já publicou na Espanha autores como Marcos Siscar, Arnaldo Antunes e outros.

O professor Italo Moriconi, em seu depoimento, valorizou a
crítica literária. Para ele, a leitura que fez, na adolescência, de “Metalinguagem
e outras metas”, de Haroldo de Campos, foi uma experiência fundamental para sua
formação. Também falou da alegria de publicar, pela EdUERJ, a coleção Ciranda
da Poesia. Moriconi acredita que o fato de ser editado por uma editora
universitária confere uma força ainda maior ao título. Para ele, uma coleção
que veio para ficar, em consonância com a tradição da própria Uerj de valorizar
a poesia, o que sempre aconteceu por meio de ações do Departamento Cultural ou
do Instituto de Letras.
Por fim, aventou com a possibilidade de disponibilizar
alguns títulos da coleção, que já estão esgotados, em formato de e-book, o que
significa novidades à vista.