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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Beatriz Damasceno em entrevista sobre Lúcio Cardoso

Lúcio Cardoso escreveu romances, peças, poesias e se expressou por meio das artes plásticas. Neste mês em que se comemora o seu aniversário de nascimento (ocorrido em 14 de agosto de 1912), a professora e doutora em letras pela PUC - Rio Beatriz Damasceno conversou com o nosso blog sobre “Lúcio Cardoso em corpo e escrita”, livro que lançou pela Editora da Uerj em 2012.

Professora, como surgiu o seu interesse pelo trabalho de Lúcio Cardoso?

O primeiro livro que li do Lúcio Cardoso foi a novela Inácio, nos meus tempos de faculdade, aqui na Uerj, e fiquei admirada com a densidade do texto. Lúcio Cardoso é um grande escritor, à medida que conhecemos seu trabalho, nós nos impressionamos com a construção dos personagens, com a estrutura narrativa.  
Além disso, o meu interesse de pesquisa é a relação entre a escrita e a experiência e Lúcio Cardoso manteve diário durante anos e o escrevia para publicação, tudo isso me levou ao estudo de sua trajetória como escritor.

Pensando neste mês em que se comemora o aniversário de nascimento do escritor, você acredita que o trabalho de Lúcio Cardoso é devidamente reconhecido?


Existe o reconhecimento da qualidade de Lúcio Cardoso como um grande romancista. Crônica da casa assassinada, por exemplo, está entre os clássicos de nossa literatura, já teve adaptação para o cinema e o teatro. Entretanto, o nome do escritor não tem uma repercussão midiática ou tão popular. Creio que a apresentação da obra do Lúcio Cardoso nas universidades e a boa divulgação dos nossos escritores, em geral, é sempre um presente maior para o leitor, mais do que para o próprio autor. Por isso, um espaço como este de vocês é tão importante.

Um fato fascinante na vida de Lúcio Cardoso é que ele não deixou suas atividades criativas serem interrompidas pelo derrame que sofreu, permaneceu criando mesmo com suas limitações, investindo mais nas artes plásticas.  O seu livro cobre bastante este período depois do AVC. Gostaria que você falasse do processo de pesquisa, já que “Lúcio Cardoso em corpo e escrita” traz muitas fotos/reproduções desta fase.

Beatriz Damasceno: pesquisa sobre escrita de Lúcio Cardoso
No meu livro, procurei dar sentido aos anos em que o escritor conviveu com o AVC, pois todas as referências biográficas davam um salto nesse tempo: em 1962, o escritor teve um acidente vascular cerebral que o impossibilitou de falar e escrever e morreu em 1968. Quis conhecer como Lúcio viveu esse tempo, já que era extremamente ligado à escrita, e encontrei uma série de pastas, blocos, cadernos, cadernetas que traziam todo um processo de busca pela reabilitação. E, principalmente, uma escrita de experiências diárias, à maneira própria do corpo. As reproduções desse material servem também para que o leitor observe o quanto o escritor mantém a cumplicidade com a escrita, no período da doença. Posso dizer que o meu processo de pesquisa foi muito emocionante.

Hoje em dia vem se tornando comum surgirem artistas que transitam em mais de uma forma de arte, e vemos classificações como “artista multimídia”. De certa forma, Lúcio Cardoso já antecipava esta tendência?

Lúcio Cardoso era múltiplo, tinha interesses diversos, transitou por muitas áreas em toda a sua carreira, como, por exemplo, teatro e cinema. Também já gostava de pintar, desenhar. Entretanto, conseguiu reconhecimento como romancista. Mas acredito que a pintura, ofício após o AVC, foi para ele uma nova forma de escrita. Numa folha de bloco que está reproduzida no livro, Lúcio escreve aos amigos, após a abertura de sua exposição de quadros e inúmeros elogios: “É, sou escritor.”

Esta luta pela arte como uma necessidade vital, empreendida por Lúcio Cardoso, contrasta muito com a forma com que muitos lidam com a arte nos dias de hoje, com o prisma do descartável, do instantâneo, apenas do viés mercadológico.  Neste aspecto, acredito que seu livro pode ser interessante a professores e estudantes não só de letras, mas de artes em geral...

O que acho interessante na personalidade desse artista, quando você se refere ao interesse mercadológico, é que Lúcio Cardoso fez praticamente um trabalho às avessas. Num momento em que o romance chamado regionalista estava em voga, que escrever sobre a realidade social era uma forma de alcançar um reconhecimento, Lúcio Cardoso nega essa opção e rejeita qualquer análise de seus livros a partir dessa ótica. Em entrevista, afirma: “A minha concepção de romance vai de encontro ao da maioria dos romancistas modernos, que preconizam uma arte da observação pura, a fotografia da realidade... A verdade está no subsolo.”

Acredito que o livro traz uma reflexão sobre a arte que não espera, que é uma marca territorial, matéria de expressão. Lúcio Cardoso, nesse período, dentro de todas as limitações, não teria interrompido seu trabalho de diarista, por exemplo, mas o apresenta de maneira radical, inscrevendo as percepções, movimentos e afecções do corpo na composição da escrita.

Qual o maior legado de Lúcio Cardoso?

Lúcio Cardoso nos deixa a relação de dignidade do artista com sua arte. Experimentou a morte pela escrita e por ela também será incapaz de morrer.


O Blog agradece a sua entrevista!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Livro destaca os trânsitos da história da arte


"Conexões: ensaios de história da arte", organizado por Maria Berbara, Roberto Conduru e Vera Beatriz Siqueira, saiu no final de 2014.  O livro, que abrange diversos tópicos enfocados pelos professores do Instituto de Artes da UERJ, reflete sobre o conceito de arte, para além do estudo das categorias tradicionais do ocidente.

Nos diversos capítulos, há a preocupação de observar o diálogo entre diferentes culturas e sociedades, a forma como essa troca permeou a cultura e as criações artísticas.

Nesse sentido, temos o ensaio que aborda questões inerentes à afro-brasilidade, escrito pelo professor Roberto Conduru, além da análise de Paulo Knauss, sobre a forma como os índios eram representados pelas esculturas do século XIX.

O livro propõe um desdobramento de "história da arte - ensaios contemporâneos", publicado também pela EdUERJ, em 2011, e divide-se em 3 seções: Globalização, Trânsitos e Paralelos.

Os ensaios são assinados por Thomas DaCosta Kaufmann, Roberto Conduru, Paulo Knauss, Rafael Cardoso, Raphael Fonseca, Vera Beatriz Siqueira, Tadeu Mourão Lopes, Alexandre Santos, Bony Shacter, Maria Berbara, Carla Hermann, Cezar Bartholomeu, Patrícia Corrêa, Paula Ramos e Roberto Corrêa dos Santos.

Nesse link, uma entrevista concedida por Roberto Conduru à Revista de História da Biblioteca Nacional, com o tema história da arte.




segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Experiência opaca enfoca literaturas argentina e brasileira

Acabando o ano e não resisto a falar de um livro muito interessante, de 2012. Nada mal olhar um pouquinho para trás, antes que cheguem as novidades, os livros de 2014. Antes que eles nos enfeiticem.
Quero falar de A experiência opaca – literatura e desencanto, de Florencia Garramuño, lançamento da EdUERJ, com tradução de Paloma Vidal. Um trabalho que enfoca as literaturas argentina e brasileira contemporâneas não só como objeto de estudo, mas como um vasto campo de experimentação teórica. Para isto, a autora utiliza concepções, como as de Lygia Clark e Hélio Oiticica, que pressupõem que a arte como um convite à experimentação, pronta a modificar o público que a consome, oferecendo e recebendo novos significados.
Não por acaso, Florencia invoca uma fala do personagem Rodrigo, oriundo de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector:
“Transgredir meus próprios limites, me fascinou de repente. E foi quando pensei em escrever sobre a realidade, já que esta me ultrapassa.”
Como exemplo para explicar a interação entre arte e realidade, Florencia recorre a Hélio Oiticica, extraído em “Anotações sobre o Parangolé”: “Museu é o mundo, a experiência cotidiana”.
Esta é a filosofia que permeia este Literatura Opaca. Nele, a professora nos guia por autores cuja criação literária arranca o sujeito de si mesmo, desfilando personagens eventualmente sem nomes, protagonistas que se fundem, sugerindo a intensificação de estados emocionais e caminhos fragmentados. Para Florência, a escrita está “mais próxima de uma ideia de organismo vivo, irracional, que respira, do que de uma construção acabada...”.
A literatura analisada, seja brasileira ou argentina, não surge impondo conhecimento ou saberes, mas sugerindo o precipício do gozo e da fantasia, quiçá do sofrimento. Nesta aventura, Florencia enumera Clarisse Lispector, João Gilberto Noll, Ricardo Zelarayan, Beatriz Sarlo, Osvaldo Lamborghini, Silviano Santiago, Ana Cristina Cesar, entre outros.
Um dos destaques é a abordagem do lado histórico de dois países do terceiro mundo marcados pela ditadura. Um exemplo é o capítulo 2, “Um contexto: o desencanto do moderno”, observando o aparente apogeu, seguido de esgotamento, da hegemonia cultural da esquerda nos primeiros anos da ditadura tanto no Brasil quanto na Argentina (esgotamento “apressado” pelo AI-5, no nosso caso). O desdobramento é a encruzilhada, surgida posteriormente: a arte deve ater-se ao momento político de seu país, tornando-se, por vezes, doutrinária? Ou seria possível uma manifestação cultural política e autônoma?
Estas e outras questões estão em A experiência opaca – Literatura e desencanto, de Florencia Garramuño, coordenadora do Programa de Cultura Brasileira da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires, indicado, sobretudo, para os estudiosos de literatura latino-americana.


quinta-feira, 27 de março de 2014

A importância da pesquisa qualitativa em geografia


Dois verbos imprescindíveis para que se desenvolva o conhecimento: pesquisar e interpretar. Este lançamento de 2013 na área de geografia traz relatos que demonstram a importância de um bom planejamento.  

São 27 artigos assinados por professores de instituições universitárias diversas, cujos textos resultam de pesquisas acadêmicas desenvolvidas em programas de pós-graduação e de iniciação-científica. As atividades práticas foram realizadas especificamente nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba, Goiás e Tocantins. 


Didaticamente, a primeira parte é a que destrincha os conceitos gerais, a relevância, a metodologia e os erros comuns dos que se aventuram na área deste tipo de pesquisa. Nas demais, predominam as descrições de experiências práticas.

Os exemplos vão de Uberlândia à Goiânia, passando por outros cenários, levando o leitor a uma viagem exploratória por diferentes aspectos do Brasil. Com isso, cobre o amplo espectro de dúvidas que um estudante poderia ter sobre o tema, trazendo, em suas mais de 500 páginas, narrativas que se desdobram nos campos urbano e rural.

Podemos citar como exemplo das abordagens, o artigo de Xisto Serafim de Santana sobre o discurso do medo e sua influência sobre a geografização das práticas da violência. Ou a análise de Iara Soares e de Beatriz Ribeiro para as aglomerações urbanas no Brasil, tendo Montes Claros/MG como objeto de estudo. Há também um capítulo, assinado por Glaucio Marafon e Marcelo Antonio Sotratti, sobre a pesquisa qualitativa nos estudos do patrimônio cultural em espaços rurais.

Além de dissipar dúvidas acerca a pesquisa qualitativa, o livro pode ser um atrativo para que futuros pesquisadores, ajudando-os a definir ações práticas e conceituais que resultem em um conhecimento que possa ser validado pela comunidade científica.








terça-feira, 17 de março de 2015

Reflexões sobre a arquitetura e a filosfia

Achei este trecho muito interessante, escrito por Beatriz Dorfman, está em "Derrida e arquitetura", (livro organizado por Dirce Eleonora Solis e Fernando Freitas Fuão), que saiu pela EdUERJ.  
O capítulo em questão se chama "Arquiteturas do desejo".

"A paixão conduz a filosofia ao que está além dos tijolos, porque o que funda a arquitetura não são apenas os seus elementos materiais. A arquitetura não se limita à construção, é mais do que uma técnica de produção de objetos habitáveis, blocos, cubos, formas espaciais. O pensamento arquitetônico vai além da materialidade da forma construída. A discussão do sentido da arquitetura conduz ao pensamento filosófico e a configuração formal é uma de suas múltiplas expressões".


Por R. Zentgraf (zentgraf.eduerj@gmail.com)