Existe possibilidade de poesia em um cotidiano embrutecido? A
questão inspira “O poema em tempos de barbárie e outros ensaios”, de Vera Lins,
lançamento da Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (EdUERJ). Em
suas reflexões, a autora enfoca o poema que surge como ato de resistência a uma
realidade social inóspita, ou que se propõe resposta ao estado letárgico da
sociedade de entretenimento. Com espaço para questionamentos filosóficos e
existenciais, o livro observa o protagonismo do verso, do autor e também da
crítica literária, em produções dos séculos XX e XXI.

Com a ajuda de versos de Paul Celan, Sebastião Uchoa Leite, Murilo
Mendes, Haroldo de Campos, entre outros, Vera Lins guia o leitor em suas
explanações, argumentando que se a realidade mostra-se difícil, é justamente do
dilaceramento que nasce a esperança. Enquanto a prosa inclina-se frágil diante
da realidade, a poesia tem a vantagem de seguir por caminhos menos literais,
proporcionais à imaginação ou à ousadia do autor.
No livro, alguns autores
são comentados em capítulos específicos, como o alemão W.G. Sebald, e seu
trabalho com texto e fotos, assim como o cubano Nicolás Guillén, mencionado por
suas elegias. Neste sentido, destaca-se o capítulo Confinamento e
deslocamento na poesia brasileira de Cruz e Souza a Ferreira Gullar,
tratando de dois representantes de períodos distintos, cuja obra, em comum,
denotava resistência (como Poema sujo, de Gullar, ecoando o exílio).Também
merece menção especial o capítulo que analisa o impacto causado pelo quadro
Arrufos(1887), de Belmiro de Almeida, que escandalizou por trazer imagens de
intimidade para uma sociedade habituada a ilustrações de cunho menos pessoal.
Dialogando com a inserção do poema em tempos de crise, a autora
reserva um espaço para falar da crítica literária. Esta é abordada em capítulos
como A crítica de arte e o jornal, “A crítica em tempos de guerra:
Ruben Navarra e os anos 40”, para citar alguns.
Ao todo são dezesseis artigos que podem ser lidos de forma
autônoma, e que, juntos, constituem uma indicação sobretudo aos estudiosos da
literatura, mas também aos interessados em arte no seu aspecto mais amplo.