quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A conquista da consciência negra é de todos nós


Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado  no dia 20 de novembro, faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil.

A conquista da Consciência Negra é de todos nós. Do catálogo da  EdUERJ, destaca-se uma seleção de publicações pertinentes à história e à cultura da África no Brasil, para homenagear a data.


“Carl Einstein e a Arte da África”, lançamento da EdUERJ, organizado por  Elena O'Neill e Roberto Conduru,  apresenta a  obra do historiador e colecionador de arte Carl Einstein (1885-1940) e seus escritos acerca de esculturas e objetos africanos, que ajudaram a inaugurar o campo de estudos sobre a arte da África. A difusão do pensamento desse teórico e crítico, além da contribuição de autores  (numa segunda parte), desafia o etnocentrismo ainda hegemônico, revertendo práticas determinadas pelo empreendimento colonial.



O  livro “Pérolas negras – primeiros fios:  experiências artísticas e culturais nos fluxos entre África e Brasil”  reúne 42 textos sobre variadas ideias e realizações da arte, da história da arte e da cultura, vinculadas às questões de africanidade e afrobrasilidade. A pesquisa adota, como diretriz plástico-conceitual para seus desdobramentos, o fio de contas – que acompanha a vida espiritual do fiel de sua iniciação às suas cerimônias fúnebres.




As marcas da escravidão: o negro e o discurso oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos,  de  Heloisa Toller Gomes, publicado em 2009, busca recompor a imagem (e a autoimagem) do negro no Brasil e nos Estados Unidos oitocentistas a partir de significativas mostras de discursos religiosos, políticos e literários. Heloisa Toller pesquisa a literatura oitocentista à procura de vestígios que ajudem a caracterizar o discurso que se construiu sobre o negro. Apoiada pelas teorias de Michel Foucault (análise das formações discursivas) e Jacques Derrida (literatura na intertextualidade), analisa conceitos ideológicos que perpassaram séculos e marcaram profundamente o nosso presente.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Entrevista com os organizadores de "Palavra cantada: estudos transdisciplinares"

Cláudia Neiva de Matos, Fernanda Teixeira de Medeiros e Leonardo Davino de Oliveira falam sobre a experiência de organizar o livro Palavra cantada: estudos transdisciplanares, cujo lançamento acontecerá em 18 de novembro, às 18h30min, na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel.

Palavra cantada: estudos transdisciplinares é o terceiro volume a reunir trabalhos apresentados nos Encontros da Palavra Cantada. Conte-nos um pouco sobre esse evento.

O I Encontro de Estudos da Palavra Cantada aconteceu em 2000, na UFF, promovido em parceria pelos Programas de Pós-Graduação em Letras da UFF e Música da UNIRIO. Foi organizado pela etnomusicóloga e professora da UNIRIO Elizabeth Travassos, por Fernanda Teixeira de Medeiros, que na época estava concluindo o doutoramento em Literatura Comparada, e por Cláudia Neiva de Matos, professora de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na UFF. A ideia era reunir pesquisadores de diversos campos disciplinares que lidassem com formas vocomusicais da palavra. Juntamos um elenco maravilhoso, com palestrantes como Affonso Romano de Sant’Anna, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, José Ramos Tinhorão, Lorenzo Mammi, Santuza Cambraia Naves, Jorge Coli, Martha Ulhôa, Carlos Sandroni e vários outros de semelhante quilate. O I Encontro resultou num livro publicado pela 7Letras, que se esgotou rapidamente. Seis anos depois, a mesma equipe realizou o II Encontro, promovido pela Pós em Música da UNIRIO, pela Pós em Letras da UERJ e pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, que providenciou o espaço para as palestras no Campus da Urca. Este II Encontro recebeu dois convidados internacionais: foi aberto pela conferência “O que vem primeiro? a palavra, a música ou a performance?”, proferida pela grande especialista britânica em Literatura oral Ruth Finnegan; e encerrado pelo etnomusicólogo e performer vietnamita Tran Quang Hai. Ao lado deles e de importantes pesquisadores brasileiros, tivemos a participação de artistas como Adriana Calcanhotto e Henrique Cazes. Resultou numa coletânea publicada, mais uma vez, pela 7Letras. E o III Encontro, organizado por Elizabeth Travassos, Cláudia Matos e Liv Sovik (professora de Comunicação na UFRJ) e promovido pela Pós-Graduação em Música da UNIRIO e pelo PACC da UFRJ, teve lugar em 2011, na Casa do Estudante Universitário da UFRJ. Também contou com convidados internacionais (Anthony Seeger, Stéphane Hirschi, David Treece), ao lado de especialistas de várias instituições brasileiras. Vários destes haviam participado também dos Encontros anteriores, ajudando a dar consistência e continuidade aos diálogos e reflexões acerca da palavra cantada. E desta vez, após as mesas de palestras, assistimos a pequenos shows dos emboladores Francisco Miguel Beserra e Miguel Bezerra, do compositor e intérprete Luiz Tatit, e da compositora e intérprete Numa Ciro. 

Conforme vemos na apresentação do livro, a expressão “palavra cantada” pode ser entendida como qualquer manifestação comunicativa ou artística em que a poesia encontre a música e a performance vocal. Como surgiu a ideia de se promover um estudo transdisciplinar desse tema?

A noção de palavra cantada abrange desde cantos rituais das culturas ágrafas até a canção popular contemporânea em seus inúmeros formatos, passando pelo canto erudito, por eventos poéticos e dramatúrgicos que operam diversos níveis de entoatividade vocal etc. Em todas as suas modalidades, as artes da palavra cantada reúnem numa linguagem única as energias, discursos e sentidos da música, da poesia e da voz. O objetivo central dos Encontros sempre foi promover a reflexão sobre os fatos de palavra cantada a partir de abordagens que permitissem apreender aspectos da interação entre as linguagens verbal, musical e vocoperformática. Por outro lado, podem-se observar esses fatos, com os sujeitos e eventos a eles ligados, em seus contextos sociais, culturais, históricos, econômicos, tecnológicos. A complexidade da articulação entre todos esses aspectos e dimensões somente pode ser enfrentada por abordagens que reúnam instrumentos e saberes ligados a diferentes áreas disciplinares, tais como Musicologia e Etnomusicologia, Literatura, Semiótica, Antropologia, Estudos da voz e da performance, História, Comunicação e muitos outros. 

Ainda na apresentação do livro, lemos que a compreensão das formas vocomusicais da palavra encontra obstáculo na separação de disciplinas no meio acadêmico, além de na segmentação dos níveis de cultura (erudito – popular – folclórico) e de nichos de mercado. Como isso pode ser superado?

Para promover a integração entre as perspectivas de diferentes disciplinas e evitar as compartimentações redutoras e às vezes preconceituosas entre níveis de cultura, o projeto do Encontro de Estudos de Palavra Cantada estabeleceu como seu objetivo geral: “Promover a oportunidade e as condições para uma ampla reflexão sobre o universo estético e cultural relacionado à palavra cantada, a partir de uma abordagem multidisciplinar que permita apreender a interação entre suas dimensões verbal, musical e vocal, bem como o circuito cultural onde se articulam seus processos de produção e recepção”. Com isso, tentamos fazer avançar as parcerias e a troca produtiva de ideias e instrumentos de análise, multiplicando as interfaces entre áreas de conhecimento que desenvolvem separadamente suas reflexões, empenhando-se na integração de seus respectivos dispositivos teóricos e metodológicos. Essa integração possibilita e estimula a aproximação e articulação entre temas e objetos de estudo, ajudando a reconhecer e iluminar os trânsitos e interlocuções entre repertórios, poéticas e práticas comunicativas de diferentes procedências e campos sócio-culturais.

Quais os efeitos da crescente organização e disponibilização de acervos de música popular no estudo da palavra cantada? Qual a relevância da canção popular para a constituição e a compreensão da cultura brasileira?

Antes das tecnologias digitais, os grandes acervos de música popular (discos, partituras, documentos) eram obra de colecionadores empenhados, alguns deles profissionais do ramo (como Almirante), outros pesquisadores (como Jairo Severiano), outros simplesmente aficcionados. A maioria deles disponibilizou seu acervo para estudiosos, jornalistas, acadêmicos. Hoje em dia vários desses acervos são geridos por instituições como o Instituto Moreira Salles e o Museu da Imagem e do Som. Por outro lado, com os computadores e a Internet, expandiu-se enormemente o acesso a arquivos sonoros e documentos de toda a história da música popular brasileira. Isso certamente facilita e estimula os estudos sobre a canção popular, analisada sob perspectivas estéticas e semióticas ou considerada como elemento funcional e significativo no quadro sócio-cultural, histórico e políticodo Brasil. Há muito tempo que se reconhece a relevância e mesmo centralidade da música popular na expressão e difusão da cultura brasileira. Justifica-se assim que, desde os anos 80, se venha assistindo, em vários campos disciplinares, a uma notável expansão dos estudos acadêmicos sobre a canção popular.

Os ensaios reunidos em Palavra cantada: estudos transdisciplinares passeiam por diversos gêneros musicais. Da canção ameríndia à trova francesa, passando pelo samba, pela bossa nova, pelo cordel, pela MPB e pelo rap, entre outros. O que o leitor pode esperar encontrar entre esses trabalhos? Fale-nos um pouco sobre eles.

Os autores aqui reunidos abordam, sob variada angulação, objetos bastante heterogêneos. Entretanto, é possível verificar em seus trabalhos alguns aspectos marcantes e reiterados, que apontam tendências significativas dos atuais estudos sobre fatos de palavra cantada. Nota-se, por exemplo, um interesse crescente pelas questões relativas à voz e à performance, como fatores determinantes na conformação e na historicidade das obras. Na canção popular, a interpretação vocal, junto a outros elementos performáticos, chega a desempenhar uma função autoral, podendo constituir uma marca étnica e influir na evolução dos gêneros cantados (Sandroni, Matos, Ulhôa). Também se multiplicam, em diversas áreas acadêmicas, os trabalhos que relacionam história e canção, fazendo desta um objeto privilegiado para a investigação dos processos sociais (Garcia, Sovik, Napolitano, Travassos, Diniz). Por outro lado, a expansão da Etnomusicologia nos meios acadêmicos, com o aperfeiçoamento e incremento dos modos de registro e abordagem, aprofunda o conhecimento sobre os cantos indígenas (Seeger, Tugny) e afrobrasileiros (Travassos, Lucas, Sandroni). Finalmente, apuram-se os instrumentos de análise que, observando a interação das estruturas melódicas e linguísticas, logram uma melhor compreensão dos efeitos estéticos e semânticos da palavra cantada, tanto em suas vertentes eruditas (Moretzsohn) como populares (Tatit, Treece). Neste âmbito, destacam-se também os estudos sobre as relações entre canção e poesia escrita (Wisnik, Treece) ou oral (Sautchuk), fornecendo subsídios para a elaboração teórica das questões relativas à análise de canções a partir da ótica literária e vice-versa (Hirschi, Davino).


Entrevista concedida à Thayssa Martins, graduanda de Letras – Inglês/Literaturas na UERJ e estagiária da EdUERJ.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mais vendidos da EdUERJ na XI Feira do Livro das Editoras Universitárias

Senhoras e senhores, meninos e meninas,

É com imensa satisfação que a EdUERJ lhes dá boas-vindas a mais uma cerimônia virtual de premiação de livros mais vendidos – desta vez, da XI Feira do Livro das Editoras Universitárias.


Com troféu de ouro...

Carl Einstein e a arte da África.
Lançamento da EdUERJ, o volume, organizado pela uruguaia Elena O'Neill e pelo brasileiro Roberto Conduru, reúne os escritos de Carl Einstein, inéditos no país, que inauguraram a abordagem estética dos estudos da arte africana, acompanhados das imagens que ilustraram os textos originalmente. Além disso, apresenta releituras do autor e de sua obra por parte de autores da América do Sul, da Europa e da África, desafiando estruturas e práticas determinadas pelo empreendimento colonial.

Com troféu de prata...

Atlas da política externa brasileira.
Fruto de um projeto do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo – Iesp/Uerj), que promove intercâmbio científico entre Brasil e França, reunindo parceiros de distintas disciplinas e tradições profissionais, o livro, organizado por Carlos R. S. Milani, Enara Echart Muñoz, Rubens de S. Duarte e Magno Klein, retoma conceitos e métodos desenvolvidos pelas equipes dos dois lados do Atlântico em torno dos processos contemporâneos de mundialização, aprofundando-os e aplicando-os à política externa brasileira.

Com troféu de bronze...

Dimensões e fronteiras do estado brasileiro no oitocentos.
Organizado por José Murilo de Carvalho e Lucia Maria Bastos P. Neves, é uma contribuição  que instiga novos estudos sobre a construção do Estado brasileiro no século XIX.  Em seus ensaios, os autores procuram configurar teias de relações entre o Estado em construção e as tensões sociais a partir de três fenômenos centrais: nação, cidadania e Estado. Os capítulos versam sobre temas como a escravidão, a cultura letrada e as instituições jurídicas, contribuindo para maior conhecimento da história oitocentista do país.

Outros destaques da EdUERJ na XI Feira do Livro das Editoras Universitárias foram A redação de trabalhos acadêmicos: teoria e prática, de Darcilia Simões e Claudio Cezar Henriques; Escola de Frankfurt: inquietudes da razão e da emoção, organizado por Jorge Coelho; Homossexualidade e adolescência sob a ótica da saúde, de Stella R. Taquette; e Emancipação e diferença, de Ernesto Laclau.

Por Thayssa Martins, graduanda de Letras – Inglês/Literaturas na UERJ e estagiária da EdUERJ.